• O que você precisa saber sobre doença renal crônica!

A doença renal crônica constitui hoje importante problema médico e de saúde pública. Segundo o Censo Brasileiro de Diálise, no Brasil, a prevalência de pacientes mantidos em programa crônico de diálise continua aumentando com o passar dos anos, sendo que em 2021 havia 148.363 pacientes.1

Os rins são órgãos fundamentais para a manutenção da homeostase do corpo humano. Logo, a diminuição progressiva da função renal, implica em comprometimento de todos os outros órgãos.2

A função renal é avaliada pela filtração glomerular e a sua diminuição é observada na doença renal crônica, associada a perda das funções regulatórias, excretórias e endócrinas do rim. Quando a filtração glomerular atinge valores muito baixos, inferiores a 15 mL/min/1,73m2, estabelece-se o que denominamos falência funcional renal.2

De acordo com a National Kidney Foundation (NKF), uma instituição especialista americana e endossada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, a definição de doença renal crônica se baseia nos seguintes critérios:2

 

  • Lesão renal por um tempo igual ou superior a 3 meses;
  • Filtração glomerular <60 mL/min/1,73 m2 por tempo igual ou superior a três meses com ou sem lesão renal.

 

A partir desses critérios, a Doença Renal Crônica (DRC) é definida por uma “lesão do parênquima renal (com função renal normal) e/ou pela diminuição funcional renal presentes por um período igual ou superior a três meses”.2

 

Classificações da doença renal crônica

Com base nesta definição, foi proposta a classificação para a doença renal crônica, de acordo com o grau de função renal do paciente. Estes estágios são:

 

Fase de função renal normal sem lesão renal

Inclui pessoas que fazem parte do grupo de risco para o desenvolvimento da DRC, mas que ainda não desenvolveram a lesão renal. Por exemplo: hipertensos, diabéticos e familiares de hipertensos, diabéticos e portadores de DRC. Por isso, essa fase contribui para a epidemiologia, auxiliando no rastreio dos casos.3

 

Fase de lesão com função renal normal

Essa fase corresponde ao período em que o ritmo de filtração glomerular está acima de 90 mL/min/1,73m2, ou seja, nas fases iniciais de lesão renal com filtração glomerular ainda preservada.3

 

Fase de insuficiência renal funcional ou leve

Este é o período de início da perda de função dos rins. Enquanto os níveis de ureia e creatinina plasmáticos ainda são normais, somente métodos especialistas em avaliação da função renal irão detectar possíveis anormalidades, pois ainda não há sinais ou sintomas clínicos importantes que caracterizem insuficiência renal. Nesta fase, o ritmo de filtração glomerular está entre 60 e 89 mL/min/1,73m2, então os rins conseguem manter em partes o controle do meio interno.3

 

Fase de insuficiência renal laboratorial ou moderada

Nesta fase, há sinais e sintomas discretos de ureia no sangue, por isso o paciente ainda se mantém clinicamente bem. Apesar de discretos, os sintomas estão relacionados a outras causas relacionadas a falha renal, como lúpus, hipertensão arterial, diabetes mellitus, infecções urinárias e outros.

Apesar disso, os exames laboratoriais já evidenciam os níveis elevados de ureia e de creatinina plasmáticos. A faixa de ritmo de filtração glomerular está entre 30 e 59 mL/min/1,73m2.3

 

Fase de insuficiência renal clínica ou severa

Nesta fase, a faixa de ritmo de filtração glomerular está entre 15 e 29 mL/min/1,73m2.

O paciente já apresenta sinais e sintomas claros de uremia, sendo a anemia, a hipertensão arterial, o edema, a fraqueza, o mal-estar e os sintomas digestivos são os mais precoces e comuns.3

 

Fase terminal de insuficiência renal crônica

Neste período, os rins perderam o controle do meio interno, tornando-se bastante alterado a ponto de ser incompatível com a vida. Além disso, o paciente encontra-se intensamente sintomático com ritmo de filtração glomerular já inferior a 15 mL/min/1,73m2.3

As opções terapêuticas incluem métodos de depuração artificial do sangue (diálise peritoneal ou hemodiálise) ou o transplante renal.3

 

Confira também cartilha sobre a DRC

 

Diagnóstico

Para reduzir o sofrimento dos pacientes e os custos financeiros associados à doença renal crônica é essencial a detecção precoce da doença renal e condutas terapêuticas apropriadas para o retardamento da progressão da doença.3

Formas de avaliar e detectar a doença renal crônica:

 

Avaliação da Filtração Glomerular

A filtração glomerular é a melhor medida do funcionamento renal. O nível da filtração glomerular varia com a idade, sexo, e massa muscular. As diretrizes preconizam que a filtração glomerular pode ser estimada a partir da dosagem sérica da creatinina (Crs), aliada a variáveis demográficas como idade, sexo, raça e tamanho corporal.2

 

Avaliação da lesão do parênquima renal

A doença renal crônica pode ser diagnosticada sem o conhecimento da sua causa. Normalmente o comprometimento do parênquima renal é confirmado por marcadores de lesão em vez da biópsia renal.2

 

O principal marcador de lesão renal é a proteinúria (albuminúria) persistente. Contudo, é preciso lembrar que proteinúria é um termo genérico, que engloba a excreção urinária de albumina e qualquer outra proteína. Já a albuminúria refere-se única e exclusivamente à eliminação urinária de albumina, um marcador de lesão glomerular.2

 

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Como tratar doença renal crônica

O tratamento dos pacientes com doença renal crônica requer o reconhecimento de aspectos distintos e relacionados, que englobam a doença de base, o estágio da doença, a velocidade da diminuição da filtração glomerular, identificação de complicações e comorbidades, particularmente as cardiovasculares.2

 

  • Pacientes hipertensos com doença renal crônica com proteinúria >1,0 g/dia, devem ser tratados preferencialmente com inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) ou, em caso de intolerância a este grupo de drogas, com bloqueadores do receptor 1 da angiotensina (BRAT 1). O nível pressórico recomendado é <125/75 mmHg2;
  • Pacientes hipertensos com doença renal crônica, cursando com proteinúria <1,0 g/dia, recomenda-se o tratamento com IECA, BRAT 1. O nível pressórico recomendado é < 130/80 mmHg2;
  • Para pacientes hipertensos, com doença renal crônica associada à doença vascular da artéria renal, o tratamento deve ser semelhante ao dos pacientes hipertensos2.

 

Já o estágio mais avançado, que é caracterizado por falência renal com taxa de filtração glomerular menor que 15 mL/min5, se adota como tratamento a terapia renal substitutiva, com as modalidades de hemodiálise e diálise peritoneal, ou o transplante renal.5

Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, durante a hemodiálise o paciente pode não sentir nada, ou apenas queda de pressão arterial, dores de cabeça e algumas câimbras. Por isso, não há o que temer, pois, após iniciar o tratamento o apetite retorna e a indisposição e o cansaço diminuem, melhorando a qualidade de vida no geral.6

 

 

 

 

 

Referências:

  1. SALDANHA, Fabiana B. et al. Censo Brasileiro de Diálise 2021. Brazilian Journal of Nephrology, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbn/a/FPDbGN5DHWjvMmRS98mH5kS/?lang=pt&format=pdf. Acesso em janeiro de 2023.

  2. BASTOS, Marcus Gomes; BREGMAN, Rachel; KIRSZTAJN, Gianna Mastroianni. Doença renal crônica: frequente e grave, mas também prevenível e tratável. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 56, p. 248-253, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ramb/a/3n3JvHpBFm8D97zJh6zPXbn/?lang=pt&format=pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  3. ROMÃO JUNIOR, João Egidio. Doença renal crônica: definição, epidemiologia e classificação. J. Bras. Nefrol., v. 26, n. 3 suppl. 1, p. 1-3, 2004. Disponível em: https://www.bjnephrology.org/en/article/doenca-renal-cronica-definicao-epidemiologia-e-classificacao/. Acesso em janeiro de 2023.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Renais Crônicas. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/drc. Acesso em janeiro de 2023.
  5. CDRB (Clínica de Doenças Renais de Brasília). Estágios da DRC. 2018. Disponível em: https://cdrb.com.br/vivendo-com-a-doenca-renal/estagios-das-drc/. Acesso em janeiro de 2023.
  6. SBN. Sociedade Brasileira de Nefrologia. Hemodiálise. Disponível em: https://www.sbn.org.br/orientacoes-e-tratamentos/tratamentos/hemodialise/. Acesso em janeiro de 2023.

 

 

Publicado em 16 de Setembro de 2023

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