• Benefícios dos micronutrientes.

As doenças neoplásicas representam a segunda principal causa de morte no mundo e espera-se que o número de novos casos aumente significativamente nas próximas décadas1. Dessa forma, inúmeros pacientes sofrem com a doença e suas consequências, como a deterioração progressiva do estado nutricional, uma condição presente nos pacientes com câncer2.

Assim, estima-se que mais de 50% dos pacientes hospitalizados com câncer estejam desnutridos2. Fato preocupante, pois, a má nutrição de pacientes com câncer pode aumentar em quase 2x o risco de evolução clínica para óbito3.

A desnutrição ocorre não apenas em função dos macronutrientes, como carboidratos, proteínas e gorduras, que fornecem energia, mas também dos micronutrientes biocatalíticos e imunomoduladores4.

Como os macronutrientes são os portadores naturais de micronutrientes, a desnutrição é uma das principais razões pelas quais os pacientes com câncer apresentam um estado inadequado de micronutrientes4.

 

O que são micronutrientes?

Micronutrientes são nutrientes necessários em baixas doses para a manutenção do nosso corpo. Eles são conhecidos como as vitaminas A, D, C, E, B6 e B12, folato, zinco, ferro, cobre e selênio. Em quantidades adequadas esses micronutrientes são vitais para o bom funcionamento imunológico e do organismo5.

Por exemplo, o ferro é essencial para a diferenciação e crescimento do tecido epitelial. A vitamina A e o zinco são importantes para a integridade estrutural e funcional das células da pele e da mucosa. A vitamina C é necessária para a promoção da síntese de colágeno no tecido epitelial. As vitaminas C e E, em colaboração com as defesas antioxidantes endógenas, ajudam a proteger as membranas celulares dos danos causados pelos radicais livres gerados durante o metabolismo normal, bem como pela exposição a toxinas e poluentes6.

Dessa forma, as deficiências de micronutrientes contribuem para a baixa imunidade contra infecções e constituem uma causa comum de imunodeficiência nos países em desenvolvimento7. Por outro lado, a suplementação de micronutrientes pode melhorar as funções imunológicas e ajudar o corpo a lutar contra patógenos e cânceres8, 9.

 

Micronutrientes na Oncologia

Durante o tratamento de câncer, o consumo e as necessidades de micronutrientes podem ser aumentados pelos efeitos adversos da quimioterapia ou radioterapia (por exemplo, vômitos, diarreia, alterações no paladar) e processos inflamatórios. Perda de apetite e aversão a alimentos específicos como resultado da anorexia também contribuem para uma deficiência de micronutrientes4.

Além disso, pode-se supor que todos os pacientes com câncer que consomem menos de 50% de suas necessidades diárias de energia por uma semana, ou entre 50-75% por mais de duas semanas têm um suprimento inadequado de micronutrientes1.

As deficiências de micronutrientes têm efeitos negativos no curso da doença e na eficiência do tratamento destinado a destruir tumores, pois prejudica a imunocompetência, aumenta o risco de complicações e impacta na qualidade de vida física e mental do paciente4.

É até comum vermos muitos pacientes com câncer tomarem vitaminas e outros micronutrientes (por exemplo, selênio) com o objetivo de melhorar sua terapia padrão ou reduzir os efeitos adversos do tratamento e a doença subjacente4.

Apesar disso, a Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo recomenda vitaminas e minerais em doses fisiológicas, enquanto o uso de micronutrientes em altas doses é desencorajado na ausência de deficiências específicas1.

O exemplo da Vitamina D

Uma deficiência de micronutrientes bem comum em pessoas com câncer, é a deficiência de vitamina D. Assim, o status de vitamina D deve ser monitorado em todos os pacientes com câncer e tratado com suplementação adequada de vitamina D4.

Isso se aplica, em particular, a pacientes com câncer com estado nutricional deficiente, tratamento com inibidores da aromatase, bifosfonatos e regimes de quimioterapia incluindo antraciclinas, taxanos e anticorpos monoclonais, bem como em casos de distúrbios musculares ou mucocutâneos, fadiga e anemia relacionada ao câncer e caquexia, onde a suplementação de vitamina D para os que estão com deficiência ajuda na redução de efeitos adversos4.

Contudo, apesar da deficiência de vitamina D ser frequentemente observada em pacientes com câncer e estar associada à sua incidência e prognóstico, ainda não se sabe se o uso de suplementos para normalizar os níveis de vitamina D em pacientes com deficiência de vitamina D modificaria desfechos em pacientes com câncer2.

 

 

 

 

 

Referências

  1. Muscaritoli, Maurizio et al. ESPEN practical guideline: Clinical Nutrition in cancer. Clinical nutrition, 2021.
  2. Yalcin, Suayib et al. Nutritional aspect of cancer care in medical oncology patients. Clinical Therapeutics, 2019.
  3. Zhang, Xiaotao et al. Malnutrition and overall survival in older adults with cancer: a systematic review and meta-analysis. Journal of geriatric oncology, 2019.
  4. Gröber, Uwe et al. Micronutrients in oncological intervention. Nutrients, 2016.
  5. Yuen, Raymond CF; Tsao, Shiu-Ying. Embracing cancer immunotherapy with vital micronutrients. World Journal of Clinical Oncology, 2021.
  6. Gombart, Adrian F.; Pierre, Adeline; Maggini, Silvia. A review of micronutrients and the immune system–working in harmony to reduce the risk of infection. Nutrients, 2020.
  7. Katona, Peter; Katona-Apte, Judit. The interaction between nutrition and infection. Clinical Infectious Diseases, 2008.
  8. Abioye, Ajibola Ibraheem; Bromage, Sabri; Fawzi, Wafaie. Effect of micronutrient supplements on influenza and other respiratory tract infections among adults: a systematic review and meta-analysis. BMJ global health, 2021.
  9. Willett, Walter C. Micronutrients and cancer risk. The American journal of clinical nutrition, 1994.
  10. Berger, Mette M. et al. ESPEN micronutrient guideline. Clinical Nutrition, v. 41, n. 6, p. 1357-1424, 2022.

 

 

Publicado em 10 de Maio de 2023

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