• Transfusão de sangue: o que é e quando é necessária?

A transfusão de sangue é um recurso terapêutico para salvar vidas e melhorar a saúde em diversas circunstâncias. Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o fornecimento de sangue seguro e adequado seja parte da política e infraestrutura de saúde de todos os países. Segundo a OMS, cerca de 118,4 milhões de doações de sangue são coletadas em todo o mundo1.

Neste artigo, você vai entender mais sobre a transfusão de sangue e sobre as situações em que ela é necessária.

 

Tipos de transfusão

Existem duas formas principais de realizar a transfusão de sangue. Em uma delas, o sangue coletado pode ser armazenado em anticoagulante e transfundido para um paciente  sem passar por modificação. Isso é conhecido como transfusão de sangue total. Essa modalidade, no entanto, é extremamente restrita no Brasil.

Isso porque existe uma forma mais eficaz de transfusão, pela qual o sangue coletado de uma pessoa pode beneficiar até outros quatro pacientes. Nesse caso, o sangue é processado e dividido em diferentes componentes, que são classificados em eritrocitários (concentrados de hemácias), plasmáticos (plasma sanguíneo) e/ou plaquetários (concentrados de plaquetas) 1,4.

Esses componentes são utilizados para atendimentos de urgência, realização de cirurgias eletivas de grande porte e tratamento de pessoas com doenças crônicas (ex.: doença falciforme e talassemia) ou doenças oncológicas2.

Os hemocomponentes podem ser extraídos por meio do processamento do sangue total (doação de sangue e posterior processamento) ou de procedimentos de aférese (a separação acontece durante a doação e devolução dos outros componentes ao doador) 6.

 

Sistema ABO e fator Rh

Cada pessoa apresenta o que conhecemos popularmente como tipo sanguíneo, que pode ser O, A, B ou AB, sendo A e O os mais comuns. Adicionalmente, é possível ter o fator Rh, positivo ou negativo.

A divisão em grupos do sistema ABO identifica a presença ou ausência de antígenos e anticorpos específicos. Respeitar esse agrupamento é fundamental para garantir a segurança dos pacientes que recebem o sangue. Isso porque pessoas que têm o sangue A produzem anticorpos contra o antígeno B. Quem tem o sangue B produz anticorpos contra o antígeno A. Já as pessoas que têm o sangue AB não reagem a nenhum dos antígenos, e as pessoas que têm o sangue O reagem a ambos3.

 

  • Pessoas com sangue do tipo A: podem doar sangue para pessoas com sangue tipo AB e A2.
  • Pessoas com sangue do tipo B: podem doar sangue para pessoas com sangue tipo AB e B2.
  • Pessoas com sangue do tipo AB: pode doar sangue apenas para pessoas com sangue do tipo AB².
  • Pessoas com sangue do tipo O: podem doar sangue para pessoas de todos os outros tipos sanguíneos, A, B, AB, O. É o chamado doador universal².
  • Pessoas com Rh + só podem doar sangue para pacientes que também sejam Rh +, enquanto o fator Rh – pode doar para ambos².

 

Riscos da transfusão de sangue

Embora a maior parte das transfusões de sangue ocorram sem qualquer intercorrência, o procedimento pode apresentar alguns riscos para doadores e receptores6.

 

Doador

A doação de sangue normalmente é realizada sem intercorrências e sempre é feita sob supervisão médica e de enfermagem. Quando há alguma reação adversa, na maioria dos casos são eventos localizados, causados diretamente pela inserção da agulha, como hematoma, sangramento ou dor. Também é possível surgir alergia local ou tromboflebite em alguns casos. Há ainda pessoas que apresentam reações sistêmicas, desencadeadas principalmente por fatores psicológicos, como reação vasovagal, hipovolemia e fadiga5,6.

 

Receptor

No caso da pessoa que recebe a doação, os profissionais de saúde se mantêm atentos tanto para evitar reações causadas por incidentes (ou seja, algo que tenha ocorrido ao longo do processo de transfusão, como contaminação bacteriana) ou por reações fisiológicas à recepção do sangue ou de seus componentes5,6.

O sistema nacional de hemovigilância adota os seguintes diagnósticos de reações transfusionais5.

 

  1. Reação febril não hemolítica
  2. Reação alérgica
  3. Reação por contaminação bacteriana
  4. Transmissão de doença infecciosa
  5. Reação hemolítica aguda imunológica
  6. Lesão pulmonar aguda relacionada à transfusão
  7. Reação hemolítica aguda não imune
  8. Reação hipotensiva relacionada à transfusão
  9. Sobrecarga circulatória associada à transfusão
  10. Dispneia associada à transfusão
  11. Doença do enxerto contra o hospedeiro pós-transfusional
  12. Reação hemolítica tardia
  13. Aloimunização/Aparecimento de anticorpos irregulares
  14. Púrpura pós-transfusional
  15. Dor aguda relacionada à transfusão
  16. Hemossiderose com comprometimento de órgãos
  17. Distúrbios metabólicos
  18. Outras reações imediatas
  19. Outras reações tardias5

 

É importante ressaltar que, atualmente, são realizados rigorosos controles de qualidade, procedimentos especiais e exames nos hemocomponentes para evitar qualquer intercorrência, em conformidade com a Portaria de Consolidação  nº 5, de 2017, do Ministério da Saúde, que consolida as normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde. São exemplos desse tipo de procedimento: leucorredução, irradiação e exames de biologia molecular7.

 

 

 

 

 

Referências

 

  1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Blood safety and availability. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/blood- safety-and-availability. Acesso em 20 de outubro de 2022.
  2. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doação de sangue. Disponível    em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/sangue. Acesso em: 20 de outubro de 2022.
  3. HEMOMINAS. Doação e atendimento ambulatorial. Disponível em: http://www.hemominas.mg.gov.br/doacao-e-atendimento-ambulatorial/hemoterapia/componentes-e-tipos-sanguineos. Acesso em: 20 de outubro de 2022.
  4. ANVISA. Resolução - RDC n° 34, de 11 de junho de 2014. Disponível     em: https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20170553/04145350-rdc-anvisa-34-2014.pdf. Acesso em: 20 de outubro de 2022.
  5. ANVISA. Marco Conceitual e Operacional de Hemovigilância: Guia para a Hemovigilância no Brasil. 2015. Disponível em: [Link para download]. Acesso em: 20 de outubro de 2022.
  6. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia para uso de hemocomponentes. 2ª ed. 1ª reimpressão. 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_uso_hemocomponentes_2ed.pdf. Acesso em: 20 de outubro de 2022.
  7. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria de Consolidação nº 5 de 3 de outubro de 2017. Disponível em: [Link]. Acesso em: 20 de outubro de 2020.

 

 

Publicado em 09 de Março de 2023

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