• Processamento do sangue: o que acontece com o sangue após sua coleta?

O ciclo do sangue é um longo processo que abrange desde às etapas de captação, seleção e qualificação do doador até o ato transfusional. Apesar de poucos saberem, o sangue coletado não é diretamente armazenado para ser utilizado. Anteriormente, o sangue coletado passa por uma etapa muito importante chamada processamento do sangue, conforme esclarece o Marco Conceitual e Operacional de Hemovigilância, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)1.

No Brasil, as bolsas de sangue total coletadas por meio de doação, ou seja, sem sofrer nenhuma modificação ou processamento, têm seu uso bastante restrito e não apresentam benefícios em relação a hemocomponentes.  Dessa forma, de acordo com a legislação vigente, 100% das bolsas de sangue coletadas devem ser processadas em hemocomponentes.2

 

O que são hemocomponentes?

Os hemocomponente são produtos provenientes do sangue total ou do plasma, obtido por meio de processamento físico1. Toda bolsa de sangue total coletada pode ser processada para a obtenção dos hemocomponentes eritrocitários, plasmáticos e/ou plaquetários3. Sendo eles:

Entretanto, dependendo do tipo de processamento é possível ter diferentes tipos de produtos do sangue total. Por exemplo, os hemocomponentes são obtidos pelo processamento físico, por outro lado, os hemoderivados são produtos oriundos do sangue total ou do plasma, obtidos por meio de processamento físico-químico ou biotecnológico3.

 

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Como funciona o processamento do sangue em hemocomponentes?

O sangue coletado é transportado ao laboratório de processamento de hemocomponentes4. Antes do processamento do sangue, o serviço de hemoterapia deve avaliar as bolsas recebidas e observar, dentre outros aspectos, sua integridade física e a manutenção da temperatura exigida para o transporte3.

As bolsas de sangue total com volume inferior a 300 (trezentos) mL devem ser desprezadas, exceto quando sejam produzidas em bolsas específicas para esta finalidade, ou manipuladas em sistema estéril, mediante processo validado, de forma a não violar o sistema de conexões da bolsa, mantendo a relação volume de sangue e anticoagulante recomendada pelo fabricante3.

Essas exigências de processamento devem ser seguidas, pois o processamento fora dos padrões legais estabelecidos pode gerar eventos adversos do ciclo do sangue e prejudicar o paciente que receberá o hemocomponente1.

No laboratório de processamento, os hemocomponentes são preparados por meio de centrifugação refrigerada do sangue total, por processos que minimizam a contaminação e proliferação microbiana, nos quais se separa o sangue total em hemocomponentes eritrocitários, plasmáticos e plaquetários, conforme orienta o Guia para o uso de hemocomponentes, da Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada2.

Por conta das diferentes densidades e tamanhos das células sanguíneas, o processo de centrifugação possibilita a separação do sangue total em camadas, sendo que as hemácias ficam depositadas no fundo da bolsa. Acima delas forma‑se o buffy coat, ou seja, uma camada de leucócitos e plaquetas. Acima do buffy coat fica a camada de plasma, que contém plaquetas dispersas2.

 

Métodos para obtenção de plaquetas

Por exemplo, para a obtenção de plaquetas pela centrifugação de sangue total existem dois métodos diferentes. O primeiro consiste na centrifugação do sangue em duas etapas, pelas quais primeiro é feita uma centrifugação leve, em que se obtém o plasma rico em plaquetas, e posteriormente esse plasma é novamente centrifugado, desta vez em alta rotação, para a obtenção do concentrado de plaquetas2.

O segundo método baseia‑se na extração do buffy coat, ou camada leucoplaquetária. Nesse, o sangue total é submetido à centrifugação, visando à separação da camada leucoplaquetária. O plasma sobrenadante é transferido para uma bolsa‑satélite, pela saída superior da bolsa e o concentrado de hemácias é extraído pela saída inferior da bolsa. A camada leucoplaquetária permanece na bolsa original2.

Todo esse processo para a obtenção de hemocomponentes deve ser realizado em sistema fechado (ou seja, estéril), utilizando-se bolsas plásticas coletoras para esta finalidade. Caso seja necessária a realização de procedimentos especiais dos hemocomponentes, que envolvam a abertura e a manipulação do sistema fechado, deve-se utilizar área ou equipamento que garanta a manutenção da esterilidade do produto, materiais e soluções utilizadas3.

É importante que os hemocomponentes produzidos em sistema aberto sejam mantidos sob refrigeração (2°C a 6°C) e utilizados em até 24h, exceto os hemocomponentes plaquetários, que devem ser utilizados em até 4h da produção3.

Após o processamento, os hemocomponentes são considerados produtos biológicos lábeis, destinados ao uso em pacientes ou encaminhados a processo de fabricação farmacêutica4.

 

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Referências:

1. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Marco Conceitual e Operacional de Hemovigilância: Guia para Hemovigilância no Brasil. 1 ed. 2015. Disponível em: link. Acesso em janeiro de 2023.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia para o uso de hemocomponentes. 2 ed. Brasília. 2015. Normas e Manuais Técnicos. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_uso_hemocomponentes_2ed.pdf. Acesso em janeiro de 2023.

3. ANVISA. Resolução RDC nº 34, de 11 de junho de 2014 (RDC 34/2014) - Dispõe sobre as Boas Práticas no Ciclo do Sangue. Disponível em: https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20170553/04145350-rdc-anvisa-34-2014.pdf. Acesso em janeiro de 2023.

4. ANVISA. Manual de Vigilância Sanitária para o Transporte de Sangue e Componentes no Âmbito da Hemoterapia, 2ª Edição, 2016. Disponível em: http://antigo.anvisa.gov.br/documents/4048533/4048644/manual_transporte_sangue_componentes.pdf/62ea6ec8-50be-4b22-8209-18acb70be1c1. Acesso em janeiro de 2023.

 

 

Publicado em 22 de Março de 2023

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