• Entenda como o amido pode ajudar na coagulação

A coagulação do sangue é essencial para evitar hemorragias em caso de lesões de tecidos ou rompimento de vasos sanguíneos internamente. Para a formação dos coágulos, o corpo produz proteínas e plaquetas que interrompem o sangramento enquanto houver necessidade1.

Por isso, o controle efetivo do sangramento é essencial para a redução de mortes traumáticas entre pacientes devido ao sangramento excessivo. Apesar de nosso corpo ser eficiente na coagulação sanguínea, em alguns casos de emergência e hemorragia intensa, ele não consegue por si realizar a hemostasia. Nesses casos, é necessário utilizar de estratégias para evitar que ocorra choque hemorrágico no paciente2.

A hemostasia é um processo fisiológico que interrompe a perda de sangue do sistema circulatório afetado por lesões externas ou traumas. Ocorre pela ação sinérgica de três fenômenos3:

  1. Vasoconstrição;
  2. Formação do tampão plaquetário;
  3. Coagulação sanguínea. 

 

O próprio processo de coagulação do corpo, que é dividido em hemostasia primária e cascata de coagulação, pode transformar o sangue em coágulos de fibrina estável para realizar a hemostasia3.

No entanto, não é capaz de realizar a hemostasia em tempo hábil sem dispositivos e agentes hemostáticos, principalmente na emergência. Dessa forma, materiais com boas propriedades hemostáticas atraíram recentemente significativa atenção científica2.

 

Materiais hemostáticos

Embora uma série de materiais hemostáticos estejam comercialmente disponíveis, algumas questões relacionadas à segurança biológica, eficácia hemostática e alto custo limitam seu amplo uso2. Agentes hemostáticos biologicamente derivados, por exemplo, dependem principalmente dos componentes da função sanguínea, como fibrinogênio e trombina, mas têm custos elevados, vida útil curta, bem como risco potencial de contaminação viral4.

Para materiais sintéticos, os problemas potenciais incluem citotoxicidade e não biodegradabilidade. Além disso, os materiais inorgânicos geralmente causam lesões térmicas e inflamações devido à sua reação altamente exotérmica e baixa biodegradabilidade na aplicação clínica5.

 

O material hemostático ideal para suas aplicações in vivo deve:

  • Conter o sangue rapidamente3
  • Ter biocompatibilidade e biodegradabilidade2,3
  • Não apresentar risco de transmissão bacteriana ou viral2,3
  • Promover a cicatrização de feridas2,3.

 

Por que usar polissacarídeos?

Os polissacarídeos são recursos naturais com uma ampla gama de aplicações na vida cotidiana, mas ainda pouco explorados. Os polissacarídeos derivados de plantas são conhecidos por suas funções fisiológicas de conformação específica. Eles podem ser modificados ou substituídos com diferentes tipos de grupos funcionais para propósitos biológicos particulares3.

As propriedades essenciais dos polissacarídeos que os tornam adequados para potenciais aplicações hemostáticas incluem a alta capacidade de intumescimento (ficar úmido) e adsorção (adesão de moléculas a uma superfície sólida), livre de anafilaxia e biocompatibilidade. Além disso, eles podem ser biodegradados, in vivo ou in vitro, em produtos que podem ser eliminados do organismo com ou sem transformações metabólicas3.

Hemostatos à base de polissacarídeos inclui a celulose, o amido e o ácido hialurônico, por exemplo, e podem ser desenvolvidos na forma de3:

  • Géis
  • Filmes
  • Membranas
  • Nanofibras
  • Esferas
  • Micropartículas
  • Nanopartículas
  • Esponjas

 

Amido

É um dos polissacarídeos investigados para aplicação como agentes hemostáticos devido às suas características físico-químicas inerentes e pela semelhança com os tecidos da pele que são vitais para a hemocompatibilidade e coagulação do sangue3.

O amido é um biopolímero natural abundante composto por unidades de anidroglicose. É composto por dois homopolímeros diferentes de D-glicose, a amilose e a amilopectina3.

Os biomateriais à base de amido apresentam hidrofilicidade, biodegradabilidade, biocompatibilidade e similaridade com a matriz extracelular da pele, tornando-os úteis para diversas aplicações biomédicas3.

A hidrofilicidade e a biodegradabilidade são duas propriedades cruciais dos grânulos de amido que pertencem à classe dos hemostáticos passivos e atuam como uma “peneira molecular” extraindo fluidos e sangue3.

Com isso, ele determina as propriedades hemostáticas pela absorção de fluido sanguíneo, aumentando a concentração dos fatores de coagulação do sangue e de plaquetas adsorventes no local do sangramento. Por fim, o amido é um material biodegradável que pode ser hidrolisado em glicose por microrganismos ou enzimas e depois metabolizado em dióxido de carbono e água3.

Ou seja, esses nanomateriais baseados em polissacarídeos atraem hemácias, células e fatores de coagulação para o local da ferida contribuindo para uma coagulação rápida e efetiva. No entanto, parte dos desafios relacionados à essa nova estratégia, vem da necessidade de uma fabricação sofisticada e delicada; e dificuldade em manejar sangramentos excessivos3.

Apesar disso, as expectativas são positivas, pois esses materiais têm alta eficiência, alta segurança, facilidade de uso e baixo custo de produção. Os esforços deverão se concentrar em utilizar novas técnicas de impressão 3D e electrospinning que podem permitir a utilização dos hemostatos com tamanho, forma, estrutura e porosidade personalizados3.

 

Leia mais sobre saúde, nutrição e qualidade de vida no site Fresenius Kabi.

 

Referências:

  1. AMERICAN SOCIETY OF HEMATOLOGY. Blood Clots. Disponível em: https://www.hematology.org/education/patients/blood-clots. Acesso em Janeiro de 2023.
  2. YANG, Xiao et al. Design and development of polysaccharide hemostatic materials and their hemostatic mechanism. Biomaterials science, v. 5, n. 12, p. 2357-2368, 2017.
  3. BIRANJE, Santosh Shivaji et al. Polysaccharide-based hemostats: recent developments, challenges, and future perspectives. Cellulose, v. 28, p. 8899-8937, 2021.
  4. DEANGLIS, Ashley P. et al. A method to measure thrombin activity in a mixture of fibrinogen and thrombin powders. Blood Coagulation & Fibrinolysis, v. 28, n. 2, p. 134, 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5312723/. Acesso em janeiro de 2023.
  5. POURSHAHRESTANI, Sara et al. Inorganic hemostats: The state-of-the-art and recent advances. Materials Science and Engineering: C, v. 58, p. 1255-1268, 2016. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0928493115303325?via%3Dihub. Acesso em janeiro de 2023.

 

Publicado em 03 de Janeiro de 2024

DIG072