Compreender a Doença Renal Crónica (DRC)

O que é a Doença Renal Crónica?

A Doença Renal Crónica (DRC), também conhecida como insuficiência renal crónica, é uma condição que ocorre quando os rins não funcionam tão bem como deveriam para eliminar os resíduos, toxinas e excesso de líquidos do organismo.

A DRC é caracterizada por uma perda progressiva da função renal ao longo do tempo.

A Falência Renal, também designada por insuficiência renal terminal, pode desenvolver-se ao longo de vários anos ou em apenas alguns meses. Nesta fase, os doentes necessitam, em determinada altura, de diálise ou de um transplante renal para poderem viver.

A doctor discussing medication with her patient.

Estima-se que entre 8% a 16% da população mundial tenha Doença Renal Crónica (DRC)

Frequentemente a DRC não é detetada em fases inicias devido à ausência de sintomas

Frequentemente a DRC não é detetada em fases inicias devido à ausência de sintomas


Viver com Doença Renal Crónica

A doença renal crónica é uma condição progressiva. Com o tempo, os rins deixam de conseguir desempenhar eficazmente a sua função e torna-se necessário recorrer à diálise ou a um transplante renal. No entanto, há muito que pode ser feito para abrandar a progressão da doença antes de chegar à fase terminal. Uma das abordagens mais eficazes é adotar medidas para preservar a função renal existente, que inclui alterações no estilo de vida e a toma adequada da medicação. Quanto mais cedo adotar estas mudanças, melhores serão os resultados. Uma das estratégias mais importantes é a modificação da dieta, especialmente a redução da ingestão de proteínas (dieta baixa ou muito baixa em proteínas). Esta medida ajuda a aliviar a carga sobre os rins e pode atrasar significativamente a necessidade de diálise. 

 



Os Rins

Os rins são dois órgãos em forma de feijão, localizados perto do meio das costas, abaixo da caixa torácica. Cada rim contém cerca de um milhão de unidades funcionais chamadas nefrónios. Os nefrónios são responsáveis por filtrar o sangue, reabsorver e secretar substâncias e produzir urina. Mas esta é apenas uma das cinco funções principais que os rins desempenham diariamente e de forma contínua.

Funções dos Rins

As principais funções dos rins podem ser definidas em cinco pilares:

Remover os resíduos

Os rins funcionam como um filtro, que elimina os resíduos e o excesso de líquidos do corpo.

Controlar a pressão arterial

Os rins podem aumentar ou diminuir a pressão arterial ao controlar os níveis de líquidos no corpo. Além disso, produzem uma enzima chamada renina, que está envolvida na regulação da pressão arterial. A renina inicia uma cascata de reações conhecida como sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS), que acaba por levar ao aumento da pressão arterial.

Produzir glóbulos vermelhos

Os rins produzem uma hormona chamada eritropoietina. A eritropoietina envia sinais à medula óssea para produzir glóbulos vermelhos.

Manter os ossos saudáveis

Os rins produzem uma forma ativa de vitamina D, que é necessária para absorver o cálcio e o fósforo — dois minerais importantes para tornar os ossos fortes. Os rins também equilibram os níveis de cálcio e fósforo no organismo.

Controlar os níveis de pH  

O pH é uma medida que indica o grau de acidez ou de alcalinidade de uma substância. Os rins regulam os compostos químicos que controlam os níveis de acidez no organismo.


Explicação do Funcionamento dos Rins

O sangue entra nos rins através da artéria renal, que se ramifica em vasos cada vez mais pequenos até chegar aos nefrónios – unidades de filtragem dos rins. Dentro dos nefrónios, o sangue é filtrado por vasos muito finos chamados glomérulos. Depois de filtrado, o sangue sai dos rins pela veia renal. Todos os dias, o sangue passa pelos rins cerca de 300 vezes, o que equivale a cerca de 1700 litros no total. O líquido que resulta desta filtragem chama-se urina primária e contém água, sais minerais, açúcar e resíduos.

 

Embora se produzam cerca de 170 litros de urina primária por dia, apenas cerca de 1,7 litros são eliminados como urina. Isso acontece porque, à medida que a urina primária passa pelos túbulos renais, a maior parte dos seus componentes é reabsorvida conforme as necessidades do corpo. O que sobra segue para os ductos coletores, depois para os cálices renais e finalmente para a pélvis renal.

 

Por fim, a urina é transportada pelo ureter até à bexiga, onde fica armazenada até ser eliminada pela uretra.

 

Lengenda da Figura:

  • Bowman's capsule = Cápsula de Bowman
  • Glomerulus = Glomérulo
  • Collecting tubule = Ductos coletores
  • Tubule = Túbulos renais

Fontes: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279384/ (data de acesso: 02.05.2025); National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases. National Institutes of Health https://www.niddk.nih.gov/health- information/kidney-disease/kidneys-how-they-work (data de acesso: 02.05.25)

Como se avalia a função renal?

Se tiver dois rins saudáveis, tem 100% da função renal — mais do que realmente precisa. Algumas pessoas nascem com apenas um rim e conseguem viver uma vida normal e saudável. Muitas outras doam um rim a um familiar ou amigo e continuam com uma função renal relativamente normal. Os sintomas só costumam aparecer quando a função renal está bastante reduzida. Pequenas diminuições na função não causam necessariamente problemas.

Uma das formas mais comuns de medir a função dos rins é através da taxa de filtração glomerular (TFG). Esta taxa indica quantos mililitros de sangue os rins conseguem filtrar por minuto. Um valor normal é igual ou superior a 90 ml/min. A Doença Renal Crónica é definida quando a TFG está abaixo de 60 ml/min durante mais de 3 meses. No entanto, muitas pessoas não sentem sintomas até que a função renal desça para menos de 30 ml/min.

Por vezes, os valores da TFG apresentam-se na unidade de ml/min/1,73 m², porque a TFG é calculada em relação à área de superfície corporal, que em média é de 1,73 m².

Estadios da DRC e os valores correspondentes de TFG

Legenda da Figura:

  • ESTADIO 1 (TFG >90 ml/min): Função normal
  • ESTADIO 2 (TFG  60 - 89 ml/min): Perda de função ligeira
  • ESTADIO 3 (TFG  30 - 59 ml/min): Perda de função moderada
  • ESTADIO 4 (TFG  15 - 29 ml/min): Perda de função grave
  • ESTADIO 5 (TFG <15 ml/min): Falência Renal

 

Doença Renal Crónica: causas e fatores de risco


A doença renal crónica desenvolve-se habitualmente devido a outras condições de saúde ou hábitos de vida que colocam pressão sobre os rins. Embora seja mais comum com o avançar da idade, pode surgir em qualquer fase da vida. Em qualquer caso, controlar os fatores de risco e fazer os exames aconselhados são passos importantes para manter os rins saudáveis.

Os fatores de risco mais comuns incluem:

  • Diabetes ou obesidade
  • Hipertensão
  • Ter familiares com doença renal crónica
  • Idade superior a 60 anos
  • Estilos de vida com hábitos prejudiciais, como o tabagismo

Sintomas da Doença Renal Crónica

Um dos maiores desafios da Doença Renal Crónica é que os sintomas iniciais podem ser subtis, inespecíficos ou até inexistentes. Os primeiros sinais da doença renal podem incluir:

  • Sensação de cansaço ou falta de energia
  • Inchaço nos pés ou tornozelos
  • Inchaço à volta dos olhos, especialmente de manhã
  • Alterações na urina (cor, frequência ou presença de espuma)
  • Dificuldade de concentração ou “nevoeiro mental”
  • Comichão, pele seca
  • Falta de apetite
  • Dificuldade em dormir
  • Cãibras musculares durante a noite

Se estiver a experienciar vários destes sintomas, fale com o seu médico sobre a realização de testes à função renal.



Como é feito o diagnóstico de DRC?

Como a doença renal pode não apresentar sintomas nas fases iniciais, o diagnóstico é frequentemente feito através de análises de rotina ao sangue e à urina. As análises são a única forma de saber se tem DRC, razão pela qual é importante realizar exames médicos regulares, especialmente se tiver um ou mais fatores de risco para desenvolver a doença.

Análise à urina

Esta análise verifica os níveis de proteínas na urina. Normalmente, não devem existir proteínas na urina, pelo que a sua presença pode indicar lesão renal. Se o teste for repetidamente positivo para proteína durante três meses ou mais, é geralmente sinal de doença renal.

Análise ao sangue

A principal análise para detetar doença renal é a medição dos níveis de creatinina no sangue. O médico utiliza os resultados da análise ao sangue, juntamente com outros parâmetros como a idade, o tamanho corporal, o género e outros fatores, para calcular quantos mililitros de fluido os seus rins conseguem filtrar por minuto.

Este cálculo é conhecido como  a taxa de filtração glomerular estimada (eGFR).

 

Tratamento da DRC: o que fazer

A doença renal crónica não tem cura, mas há muito que pode ser feito para abrandar a sua progressão e manter uma boa qualidade de vida.

O tratamento da DRC varia consoante a gravidade da doença, mas existem medidas que podem ser aplicadas em todos os casos, tais como controlar a hipertensão arterial, corrigir desequilíbrios de sódio e água, tratar infeções do trato urinário, reduzir o risco de doenças cardiovasculares. Além disso, mudanças no estilo de vida, incluindo uma alimentação adaptada, consultas regulares e a toma de medicação de acordo com a prescrição, são fundamentais para travar a progressão da doença.

As opções de tratamento incluem o tratamento conservador, baseado em intervenções não invasivas, e tratamentos de substituição da função renal, como a diálise ou o transplante renal.

General practitioner and her aged patient talking about kidney diseases

Tratamento da DRC: o que fazer

A doença renal crónica não tem cura, mas há muito que pode ser feito para abrandar a sua progressão e manter uma boa qualidade de vida.

O tratamento da DRC varia consoante a gravidade da doença, mas existem medidas que podem ser aplicadas em todos os casos, tais como controlar a hipertensão arterial, corrigir desequilíbrios de sódio e água, tratar infeções do trato urinário, reduzir o risco de doenças cardiovasculares. Além disso, mudanças no estilo de vida, incluindo uma alimentação adaptada, consultas regulares e a toma de medicação de acordo com a prescrição, são fundamentais para travar a progressão da doença.

As opções de tratamento incluem o tratamento conservador, baseado em intervenções não invasivas, e tratamentos de substituição da função renal, como a diálise ou o transplante renal.

Nurse showing medicines to senior woman who is sitting in a wheelchair at dining table.

As proteínas são essenciais para várias funções no organismo, incluindo a formação de músculos e células do sistema imunitário. Por isso, ingerir a quantidade certa de proteína é especialmente importante para os doentes com DRC. O excesso de proteína, quando existe insuficiência renal, leva à acumulação de resíduos nitrogenados no corpo. Esta acumulação de toxinas pode ter consequências prejudiciais, como náuseas, fraqueza, cansaço, falta de ar e perda de apetite.

Por outro lado, ingerir proteína em quantidade insuficiente pode provocar um enfraquecimento perigoso do organismo. Nestes casos, pode ser indicada a suplementação com cetoanálogos.

A inclusão de cetoanálogos numa dieta com baixo teor de proteínas contribui para melhorar a qualidade da ingestão proteica. Os cetoanálogos são precursores de aminoácidos essenciais sem azoto, após serem convertidos no organismo nos aminoácidos correspondentes, ajudam a manter níveis adequados de aminoácidos sem aumentar a carga de azoto. Como resultado, há uma redução na formação de toxinas urémicas, o que é benéfico para a função renal.

Importa destacar que os cetoanálogos não têm efeito isolado — são eficazes quando utilizados em conjunto com uma dieta restrita em proteínas.

O início precoce deste tipo de abordagem em doentes com DRC avançada pode adiar a necessidade de diálise. A suplementação com cetoanálogos representa uma estratégia segura e eficaz para garantir uma ingestão adequada de aminoácidos essenciais, mesmo com uma restrição proteica significativa.

A alimentação desempenha um papel fundamental no tratamento da Doença Renal Crónica. Ao adaptar a alimentação para uma “dieta renal”, é necessário ter atenção a vários nutrientes e ingredientes. Por isso, é altamente recomendável receber orientações especializadas de um nutricionista com experiência na DRC. Fale com o seu médico e/ou nutricionista sobre as suas necessidades nutricionais individuais. Uma abordagem personalizada pode ajudar a melhorar a sua qualidade de vida e a retardar a progressão da doença.

Tratamento para a Falência Renal

Quando a DRC evolui para falência renal ou estadio 5, é necessário considerar opções de tratamento como:

Diálise

Quando os rins deixam de conseguir filtrar o sangue de forma eficaz, torna-se necessário recorrer à diálise para desempenhar essa função. Existem duas modalidades:

  • Hemodiálise: o sangue é filtrado através de uma máquina que remove resíduos, excesso de líquidos e toxinas fora do corpo.
  • Diálise peritoneal: utiliza o revestimento interno do abdómen (peritoneu) como filtro natural, permitindo a remoção de substâncias indesejadas através de uma solução especial introduzida na cavidade abdominal.

Transplante Renal

O transplante de rim pode ser uma opção viável em determinadas circunstâncias. Esta abordagem pode proporcionar uma melhor qualidade de vida, no entanto, exige a existência de um dador compatível e requer a toma de medicação imunossupressora ao longo da vida para evitar a rejeição do órgão transplantado.

Senhor, médico e máquina de diálise no hospital para avaliação renal, falência de órgãos e diagnóstico médico de saúde. Paciente, mulher e exame em ecrã para Nefrologia, filtrar o sangue e tratamento de hemodiálise.